As irmãs Alexandra e Andrea Botez se tornaram superestrelas jogando xadrez na Twitch

9 de abril de 2022 | De Matt Miller, redator sênior

Claro que Andrea está relaxada. Vencer uma partida de xadrez perante multidões não é novidade para as irmãs Botez. Elas têm feito isso a vida inteira.

Alexandra, de 26 anos, começou a jogar xadrez quando tinha seis anos.

“Meu pai me ensinou a jogar xadrez. Ele tinha aprendido com a avó já que o jogo é muito popular na Romênia, que é de onde nossa família vem”, conta Alexandra durante uma entrevista antes da viagem para Las Vegas. “Na verdade, era algo que eu realmente gostava de fazer com meu pai.”

Alexandra teve sucesso logo no início em competições e rapidamente ficou evidente que ela realmente tinha talento. Andrea, que é seis anos e meio mais nova, lembra de acompanhar seu pai e sua irmã, que, nessa época, competia em torneios de prestígio como o World Youth Chess Championship e o Canadian Youth Chess Nationals. Inspirada por ver sua irmã nesses torneios, Andrea começou a levar o jogo à sério quando tinha seis anos.

A infância inteira das duas irmãs foi passada jogando xadrez. Longos fins de semana em torneios, estudando e se preparando, tudo combinado com a vida escolar. Elas adoravam. Elas também gostavam muito de ganhar.

“Uma das minhas primeiras lembranças foi a última rodada de partidas nacionais e eu tinha que ganhar o primeiro lugar. Lembro-me de transformar um empate em uma vitória”, relembra Andrea. “Lembro-me de todas as vezes que chorei quando perdi também, mas a emoção era estar ali sentada, quando você conquista uma vitória depois de um jogo demorado, mesmo quando você é muito pequena.”

Esse sucesso inicial também trouxe muita pressão. Alexandra lembra de ter vencido torneios nacionais quando tinha oito anos e seu treinador lhe dizer: “É fácil chegar ao topo, mas é difícil se manter lá”. A partir de então, ela se tornou o alvo de todas as competições. Mas isso não a fez parar. Alexandra foi cinco vezes campeã nacional feminina do Canadá e venceu o U.S. Girls Nationals aos 15 anos. Em 2013, aos 18 anos, ela alcançou a norma do título Woman FIDE Master.

Quando Alexandra entrou para a faculdade, Andrea jogava xadrez no Óregon, onde ela estava cursando o ensino médio. Ela manteve sua vida no xadrez (ganhou o U8 Girls Canadian Youth Chess Championship em 2010 e se tornou a campeã feminina de xadrez da Colúmbia Britânica de 2015) separada de sua vida escolar.

“Eu era a única menina no único clube de xadrez de Óregon e todos os caras tinham 40 anos ou mais. Eu estava no ensino médio e nenhuma outra menina fazia isso”, conta Andrea.

Embora o xadrez tenha sido historicamente considerado um jogo dominado por homens, essa percepção mudou nos últimos anos à medida que se tornou mais popular graças ao seu ressurgimento na cultura pop e sua acessibilidade em serviços de transmissão ao vivo como a Twitch.

“Acho que a crescente popularidade definitivamente ajudou a criar representação para as mulheres”, afirma Andrea. “Para mim, o que era realmente importante era ter uma comunidade como eu. Antes, realmente não havia meninas. E, agora, com a Twitch, umas das streamers de xadrez mais populares são meninas.”

As partidas das irmãs Botez nem sempre são tão calmos e tranquilos quanto eram durante a transmissão ao vivo na Fremont Street. Entre viagens a grandes cidades ao redor do mundo, onde transmitem suas partidas presenciais no Botez Travel Show, as irmãs Botez estão mais frequentemente jogando xadrez em casa online e transmitindo na Twitch. É aí que as coisas ficam um pouco mais agitadas, mudando a ideia de jogo de concentração que a maioria das pessoas imagina que o xadrez seja. Alexandra e Andrea gritam, contam piadas, zombam uma da outra. Muitas vezes, elas jogam partidas de Blitz vertiginosamente rápidas no Chess.com, onde cada jogador tem apenas cinco (ou menos de um) minutos no total para jogar. O cronômetro é cruel. Mas o tempo parece ficar suspenso quando as irmãs Botez estão jogando. Elas checam casualmente as redes sociais, falam sobre cultura pop, fazem piadas e implicam uma com a outra enquanto jogam contra 1% dos melhores jogadores do Chess.com.

Hoje em dia, não é só xadrez. O canal delas cresceu e hoje engloba uma série de paixões e hobbies diferentes. Às vezes, eles jogam pôquer, têm aulas de circo, cozinham, jogam Jenga com colegas de quarto (as irmãs Botez se mudaram recentemente para uma nova casa em Los Angeles com outras streamers da Twitch, JustaMinx e Code Miko). Elas também lançaram o Botez Travel Show, onde exploram cidades ao redor do mundo (Paris, Londres, Oslo, Dubai) para conhecer jogadores, participar de competições e aprender estratégias com os melhores do mundo do xadrez.

Quando ela entrou na faculdade (primeiro, na Universidade do Texas com uma bolsa integral de xadrez e, depois, na Universidade de Stanford), Alexandra aprendeu alguns fatos sobre o xadrez profissional.

“Se você não for um dos 10 melhores jogadores do mundo, não conseguirá viver do xadrez”, diz ela. “Prefiro usar essas conquistas do xadrez para me ajudar a entrar na universidade dos meus sonhos, que era Stanford.”

Ela se concentrou nos estudos, mas continuou envolvida com o xadrez como hobby, encontrando comunidades online e criando conteúdo para o Chess.com. Depois de conhecer a Twitch por meio de alguns amigos do xadrez, Alexandra começou a transmitir regularmente em 2017.

“Eu simplesmente me conectava e jogava contra pessoas que são do meu nível em jogos muito rápidos do aplicativo Blitz, falava sobre isso, ouvia música e também interagia com as pessoas”, conta Alexandra. “Para falar a verdade, era apenas um passatempo divertido.”

Fora da faculdade, Alexandra ajudou a lançar uma start-up de tecnologia antes de deixar o Vale do Silício para “transmitir xadrez do meu computador e recebi muita resistência na época por isso”, diz ela. “O xadrez era um jogo que parecia estar muito bem preparado para explodir.”

E foi exatamente isso que aconteceu. Apesar do jogo já estar conquistando popularidade online ao longo dos anos, o xadrez teve um boom incrível no início da pandemia em 2020.

“Foi quando nossa visualização média cresceu 10 vezes”, disse Alexandra. “Acho que foi uma das poucas vezes na minha vida que chorei de alegria. Eu tremia de empolgação.”

Embora ela sempre tenha sido uma presença constante nas transmissões da irmã, Andrea se tornou a segunda estrela do programa quando a pandemia interrompeu seu último ano do ensino médio. “Eu tive muita sorte porque Alex já fazia isso a anos e eu entrei no momento perfeito, apenas alguns meses antes do xadrez realmente estourar e os números aumentarem”, diz Andrea.

Com a faculdade em pausa, Andrea se mudou para Nova York (onde Alexandra estava na época) e esse foi o início da marca das irmãs.

No princípio, as transmissões do BotezLive podem até ter tido apenas algumas centenas de visualizadores simultâneos. Mas, agora, elas têm uma média de quase 10 mil visualizadores nas transmissões, atingindo um pico de mais de 30.000 de uma só vez.

Nenhuma das irmãs Botez esperava ter uma carreira em tempo integral jogando xadrez.

“Lembro-me de dar aulas particulares de xadrez e ganhar, no máximo, US$ 20 por hora, e nunca pensei em ir mais longe”, relembra Andrea. “Realmente não achávamos que era possível ganhar a vida com o xadrez. Agora, existem outras meninas que são streamers de xadrez como eu, que têm 19 anos e compraram seu próprio apartamento graças ao canal da Twitch.”

No início das transmissões, Alexandra conta que tinha alguns patrocinadores dedicados e membros da comunidade que apoiaram financeiramente sua vida como criadora de conteúdo de xadrez em tempo integral. Sua primeira colaboração com uma marca foi com a empresa de colchões Helix Sleep. Ela tinha procurado a empresa já que não tinha uma cama quando se mudou para Nova York.

Agora, o trabalho com marcas criou alguns dos momentos favoritos das irmãs durante o streaming. As irmãs participaram de um torneio Uno em Los Angeles, organizado pelo Cash App, onde tiveram a chance de conviver pessoalmente com outros streamers da Twitch e jogar. Uma das favoritas de Andrea era uma stream patrocinada por uma marca de maquiagem, onde as irmãs se maquiavam.

O site Chess.com também tem sido um grande apoiador devido a liberdade criativa que eles deram às irmãs. “Muitas marcas tradicionais vêm com um roteiro ou coisas assim. Mas na Twitch, isso não funciona e não é autêntico. As marcas que entendem a Twitch e permitem que seus criadores tenham controle tendem a se sair muito melhor”, disse Alexandra.

À medida que o estrelato cresceu, as irmãs Botez dizem que agora se dão ao luxo de escolher quais ofertas de marca são as certas para elas. “Temos um público-alvo maior e a responsabilidade de fazer nossa pesquisa e garantir que as marcas sejam socialmente responsáveis, que tratem bem seus clientes e outros streamers”, diz Andrea.

Agora, as irmãs Botez podem investir muito do dinheiro desses patrocínios de marca em seu próprio canal.
Esses patrocínios, diz Alexandra, também são ótimos para as marcas, que podem veicular campanhas flexíveis que podem ser ajustadas às suas necessidades de negócios.

“[Nossos patrocinadores] geralmente estão em busca do reconhecimento da marca. Ou eles usam a criatividade ou vão atrás de cliques diretos. Há muitas coisas diferentes que as marcas podem otimizar”, diz Alexandra. “As marcas estão sempre procurando uma forma de crescer. Isso pode ser feito com o marketing tradicional ou em anúncios de TV ou mídia social. Mas o marketing de influenciadores é uma categoria muito grande. O legal da Twitch é que o público-alvo tende a ser muito mais engajado do que outros [serviços] e tem visualizadores leais. Portanto, é preciso pensar em quanto mais visualizadores são dedicados já que é ao vivo. Então, quando você trabalha com patrocínios de marca em um stream, se as pessoas estão lá por sua causa, elas não vão ignorar seu conteúdo.”

Isso também beneficia os visualizadores uma vez que as irmãs Botez selecionam marcas que são relevantes para sua comunidade. Para os criadores que estão começando, Alexandra enfatiza a importância de conseguir que o primeiro patrocínio seja exibido para outras marcas em potencial. Esses criadores de menor porte também podem trazer benefícios para as marcas porque “os microinfluenciadores realmente têm taxas de engajamento realmente altas já que as taxas de engajamento não expandem linearmente”, diz ela.

Enquanto isso, a própria marca das irmãs Botez continua crescendo. Elas estão lançando sua própria linha de tabuleiros de xadrez (feitos de alumínio reciclado e plantam uma árvore para cada compra) e outros produtos. Elas também querem continuar expandindo seu próprio conteúdo, variando de xadrez casual e competitivo a outros interesses não relacionados ao xadrez. Recentemente, porém, transmissões de xadrez presenciais, como a da Fremont Street, têm sido muito populares na comunidade de xadrez. As irmãs Botez estão animadas para encontrar novas maneiras de explorar eventos e momentos presenciais de xadrez.

Talvez alguém finalmente as vença e ganhe os US$ 100.